Pra quem ainda não sabe, estou no último período da faculdade, o que causa momentos ocasionais de nostalgia aguda relacionada com o início do curso.
Coincidentemente hoje achei, em algum lugar na internet, o texto que reproduzo a baixo contado a saga do Lendário Pink Frog, que me foi contado no primeiro período pela professoara Janaína Calazans na cadeira de Introdução a Publicidade, e que agora tornar-se-irá o nome da agência criada para o meu projeto experimental.
O diretor de arte chegou às 10:30h. Óculos escuros, cabelo molhado.
A menina do atendimento, desesperada, já estava na criação cobrando os anúncios:
– Pelamordedeus!
Oclientevaiviajarhojeàtardeequerveroslayoutsprapodermostrarparaodiretorinternacionalquevaiterumareuniãocomacoordenaçãodaaméricalatinaeeuvoumeferrarporquetodomundotiraocorpofora!
O diretor de arte não tinha ainda achado aquela sacada gráfica, entende?
– Pelamordedeus! Pelamordedeus! Pelamordedeus!
O diretor de arte, sem tirar os óculos nem dizer palavra, senta na frente do computador pensando: "Que saco, só um mês de prazo, o redator fez os títulos só há duas semanas, assim não dá pra trabalhar".
Quinze minutos depois, os layouts estão saindo da impressora. O redator vê os anúncios e comenta:
– Por que um sapo cor-de-rosa?
– Sei lá, é uma imagem bonita, instigante...
- diz o jovem diretor de arte.
– Mas o anúncio é de eletrodoméstico. Que é que tem a ver?
O diretor de arte não queria entregar que não pensou em nada e que aquele sapo era a única imagem que tinha no arquivo do computador, mas não deu tempo de ele inventar uma justificativa.
– Dáaquiessetroçoqueeutôcompressa.
No caminho do cliente, no carro, o diretor de atendimento vê pela primeira vez os anúncios para poder dizer na reunião que tinha acompanhado o processo criativo todo, inclusive direcionado a criação para não perder o foco da campanha e dar destaque ao sapo cor-de-rosa. Sapo cor-de-rosa?
– Que merda faz esse sapo cor-de-rosa aqui nesse anúncio!?
-Seiláfoiacriaçãoquefezeunãoseidenadasócobreioscaras. O diretor de atendimento não podia jogar fora o anúncio, era o único em que o título fazia uma vaga menção ao produto. Teve que pensar em uma saída.
Chegaram ao cliente, que era uma imensa multinacional. Estão na sala de reunião com toda a equipe de marketing da empresa. O diretor de atendimento, uma velha raposa, apresenta o layout do sapo rosa falando da necessidade de um property para a marca e a importância do impacto que a comunicação deve ter junto às donas de casa, que uma imagem altamente diferenciada não permite a indiferença do público alvo e que um sapo, com certeza, sensibiliza donas de casa de qualquer classe, e que o fato de ele ser rosa (uma cor altamente ligada ao universo feminino) anularia toda a imagem negativa do anuro em questão.Seja o que Deus quiser.
O diretor de marketing da multi ouviu tudo sem mudar sua expressão de jogador de pôquer. Houve aquela pausa que prenuncia hecatombes.
– O que vocês acham? – perguntou o chefão de marketing para seu comparsas.As respostas vieram pela ordem crescente na hierarquia local:
– Um pouco estranho.
– Bem estranho.
– Estranho é apelido.
– É sem dúvida a coisa mais estranha do mundo.
– Uma merda.
– Eu até que gostei do sapo cor-de-rosa - disse o chefao de marketing.
As mudanças de opinião seguiram a ordem decrescente.
– Uma merda que pode dar certo.
– Sem dúvida, se é a coisa mais estranha do mundo, é porque tem um certo appeal racional, algo de especial.
– Especial é apelido.
– Bem especial.
– Ainda acho um pouco estranho – disse o mais baixo na hierarquia, que por manter sempre sua opinião foi despedido alguns meses depois.
No final valeu democraticamente a lei do mais forte. E o diretor de atendimento voltou para a agência pensando por que raios o chefão do marketing gostou do sapo cor-de-rosa. "Será que a idéia é boa? Não, não, impossível sair coisa boa da criação. Por que o chefão gostou? Na verdade, eu é que sou um puta vendedor. Eu sou foda."
Na verdade, o chefão de marketing não sabia por que raios tinha aprovado aquele anúncio do sapo cor-de-rosa. Ele estava divagando sobre sua casa de campo, pensando como era gostosa aquela menina da agência que fala rápido, não prestou muita atenção no que o cara da agência falava. Mas, para falar tanto, ele devia estar falando coisas importantes. Não pegava bem passar por ignorante na frente de seus subalternos.
E agora o chefão de marketing está num avião, levando numa pasta branca de papel-cartão um sapo cor-de-rosa, que deve ser apresentado para um chefe que é mais chefe que ele. "Vou ter que enrolar os gringos", pensou.
A reunião com o pessoal da América Latina começou com um clima tenso. Nenhum dos diretores de marketing dos vários países onde a empresa atuava tinha um trabalho decente para mostrar. Quando o diretor de marketing do Brasil mostrou o anúncio do sapo cor-de-rosa foi um alívio geral. Todo mundo começou a apoiar a idéia do brasileiro, pelo menos assim ninguém precisa justificar seu próprio fracasso.
– Me gusta mucho el sapo rosado.
– Sin duda tenemos un simbol.
O coordenador de marketing para toda a América Latina, o big-boss de todo mundo ali, não falava bem castelhano. O big-boss dos cucarachas, como secretamente se autodenominava o coordenador de marketing para toda a América Latina, telefonou para a matriz no dia seguinte dizendo que havia unanimidade em torno de um conceito – Amazing concept – desenvolvido pelo marketing de Buenos Aires, ou será de Caracas?
– I don't know, só sei que é de um lugar do Brazil.
O anúncio do sapo cor-de-rosa e o big-boss dos cucarachas estavam a caminho da matriz, em Atlanta. O chefão estava tranquilo em relaçao ao sapo. Todos os diretores de marketing da América Latina haviam feito reports provando a viabilidade da estranha personagem anfíbia. Que os reports foram feitos para agradar a ele, o big-boss, ninguém contou. Nos reports havia números, e números fazem até um sapo cor-de-rosa existir.
O coordenador de marketing para toda a América Latina entrou às 8:00h na sala do seu chefe, que estava reunido com toda a presidência da grande empresa multinacional de eletrodomésticos. Debaixo do braço, um sapo cor-de-rosa. Reunião de portas fechadas.
As 8:05h a secretária escutou alguém gritar na sala:
– What the hell is it?Passaram-se seis meses.
O diretor de arte chegou à 11:00h. Óculos escuros, cabelo molhado. A menina do atendimento havia deixado um grosso fichário na mesa da dupla de criação. Na capa do fichário lia-se: The Pink Frog. No fichário havia todas as normas de utilizaçao do Pink Frog. O tipo de sapo que deve ser utilizado, qual a tonalidade do cor-de-rosa, as melhores posições em que deve ser fotografado, a proporçao que deve ter o sapo, perdão, o Pink Frog, em relação ao formato do anúncio. Havia até a recomendação de que se usassem sapos vivos e que se pintasse o sapo por computador para evitar problemas com os ecologistas. O sapo foi completamente dissecado em duzentas páginas.
Por conta do sapo cor-de-rosa, muita gente foi promovida, tanto no cliente quanto na agência.
- Puxaquelegaleusemprequisserdiretoradecontasemandarnessesbabacas!
Todo mundo se deu bem, menos o diretor de arte. Parece que alguém pediu a cabeça dele porque ele não seguiu as normas de aplicação do Pink Frog, e colocou em risco tão importante componente do patrimônio de marca do cliente.
José Carlos Lollo